acordei num sitio diferente ao que estava habituada, o sol da manha não era o mesmo ao entrar no meu quarto, era uma luz cinzenta sem vida. o barulho lá fora não era dos pássaros a cantar como todas as manhãs os ouvia fazer à minha janela, mas sim o barulho violento de vento. levantei me sem vontade com um peso na cabeça gigante. sentia um buraco no estômago com fome, mas sem vontade de comer. pensei num banho, soltei o cabelo e da velha e grande camisola que tinha vestida e meti-me no chuveiro. a força da agua ainda me atormentava mais a cabeça do que o vendaval que ia lá fora. voltei a entrar naquele quarto vazio, branco e frio. fiquei sentada a olhar para aquelas paredes monótonas, sem nenhum pensamento me vir à cabeça. uma rajada mais forte bateu no vidro da janela e "acordou" me num ressalto. levantei me e abri o armário, nada me parecia bem. vesti uma sweat preta para enganar todo aquele branco que me assustava e umas simples calças, calcei os ténis e comecei a descer as escadas de madeira que entoavam com o meu peso sobre cada degrau. Entrei na cozinha tirei uma maça ao acaso, tirei as chaves de cima da pequena mesa no hall e sai. um vento forte bateu me na cara, mas avancei, desci uma rua, outra, a seguir mais outra. fosse qual fosse aquele lugar, estava deserto. comecei a encontrar pessoas todas me ignoravam, como se fosse invisível, os seus olhares ainda mais vazios que tudo o que os rodeava. encontrei um pequeno parque onde sabia que nem que fosse o ultimo sitio ia ouvir gritos e risos de crianças, assim foi. sentei me num banco em frente daqueles baloiços a olhar para as crianças, isso sim tinha vida. mas pouco a pouco foram abandonando o seu recreio e indo de mãos dadas aos seus pais frios, mais uma vez sem vida. fiquei sozinha naquele banco baixei a cabeça, não suportava mais ver o nada que me rodeava. fiquei assim até sentir uma respiração. ouvi uma voz que devolveu ao meu coração o ritmo acelerado que ele precisava para não se ir a baixo. -estas bem? -se consideras sem vida bem, sim estou lá perto. -não sejas assim, a vida depende de cada um de nos. -num sitio morto como este? - foi ai que o vi, no meio de tanto branco, cinzento e baço, algo brilhava. os meus olhos percorreram o seu casaco preto, branco e vermelho, apertado até a cima, que lhe dava um ar largo, com vontade de abraçar. a sua ligeira barba castanha aloirada dava lhe a sua graça, os seus olhos brilhantes de um castanho chocolate dava lhe um ar tornorento. ele agarrou as minha mãos, as suas eram o oposto de todo aquele ambiente, eram quentes e seguras e respondeu -se tiveres o que te faz feliz o que interessa o que te rodeia? -não sei, como é que consegues viver assim? -consigo na esperança de encontrar alguém que não queira ser fria e distante como toda a gente. estas pessoas são assim por medo, por medo de amarem os outros, o mundo lá fora e saírem magoados. -já alguma vez encontraste? -acho que acabei de o conseguir. - calei me a tentar pensar em todos os significados que aquela frase podia ter. aquilo era tudo o que alguma vez tinha sonhado, e ele sentia o mesmo. uma gota caiu sobre as nossas mãos, o que fê-las se afastarem e dar lugar a um largo abraço, e logo a seguir sussurrou ao meu ouvido: -amo-te. - então a chuva parou e olhei o nos olhos com um ar algo surpreendida. assim que o meu cérebro conseguiu finalmente entender a palavra, sorri, como nunca antes tinha feito e ao mesmo tempo o sol abriu se, o vento parou assim como a chuva. mas apesar disso, voltei a sentir uma gota a escorrer me pela cara, desta vez era uma lágrima, mais um sinonimo que estava viva. abracei o com a força que nunca abracei ninguém, entrelacei os meus dedos no seu cabelo loiro que formava uma crista. aquele momento tinha de ser para sempre, só precisava de sentir que alguém me amava. quando voltei a olhar pra ele, os meus olhos estavam cheios de lágrimas e a minha vista turva. começou a parecer vê-lo desaparecer como que pintado e diluído pela agua. limpei as lágrimas e ele tinha desaparecido. ouvi alguém gritar o meu nome alto e dei um pulo, estava de novo na minha cama com o sol e o canto dos pássaros a invadirem me a janela, era apenas ficção, afinal, não me ama assim. |
Este texto está lindo Sara :o
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