Há tantos gostos, tantas coisas diferentes; tantas diferentes maneiras de ver as coisas. Começou por ser um simples gosto, comecei por estar “ao lado dele”, várias semanas. Avançando cadeira a cadeira, tentando chegar o mais perto possível de ti. Só eu sei a tristeza, de esse perto, por pouco que tenha sido, tenha desaparecido; que se tenha tornado distante. mais distante que tudo, que as ondas do mar dos raios do sol, mais longe que o som de um carro numa auto-estrada de o puro vento de um descampado. O som, calmo e sereno que havia na minha cabeça, ao pensar “amanhã vou vê-lo”, desapareceu. Passou para um som calmo sim, mas preocupante, pesado, e saudoso.
É só um homem, um homem que representa o seu clube em campo; é só um homem, que para mim tem todas as qualidades, talvez não tenha motivos para gostar assim dele, talvez seja exagerado, talvez esteja iludida, talvez não seja quem eu penso ser, talvez não dê valor a qualquer tipo de amor por dele. Talvez, ou provavelmente, tudo isto seja em vão.
Mas, se fosse por pensamento, com a minha teimosia já tinha acabado. Isto parece ser uma prova, que o coração fala mais alto. É parvo, o único homem que consigo amar, é á distância, é quem nunca disse uma palavra, é quem não conheço realmente. Mas, parece resultar. Não havendo troca de palavras, não há problemas em confusão de mesmas, não há discussões, não há alheios, não há o diz que diz, não há ciúmes; não há os típicos problemas que há quando se convive com uma pessoa. Sim, é mau; é mau olhar para tudo e ver, nove anos de diferença, cidades diferentes, “classes” diferentes; o impossível predomina, e a vontade que tudo aconteça é gigante. Neste momento já não falo de quanto amo vê-lo jogar, como isso é o mais importante, neste momento não consigo.
O valor que lhe dou, é que é o único que não me desilude, apesar da transferência, da falha na adaptação, dos seus anos de boa forma terem ido á vida. Tudo o que se passa á minha volta faz-me entrar numa ilusão em que ele é o único que está presente, de certa forma, e não me manda a baixo. Talvez seja essa a definição de ídolo, tudo estar a ruir á nossa volta, tudo estar mal, todos nos falharem, e depois há alguém, que nas histórias de amor que inventamos se mantém de pé, que ao pensar num mundo a seu lado estar tudo bem, e que por mais longe que esteja, nunca nos falha, porque está sempre a lutar.
A palavra luta também se adequa a tudo isto, sempre lutei para o ter perto, sempre lutei pelo seu melhor, sempre lutei por vê-lo, sempre lutei por defendê-lo, sempre lutei por ele. Como acho que nunca lutei por ninguém. É uma luta constante.
Falam tão mal disto, mas se fosse banal para mim, se fosse só conversa, não estava aqui com músicas que deprimem qualquer um, com lágrimas no rosto, e escrever até mais não. Com o coração nas mãos, com um aperto, que aos poucos se torna mais insuportável. Bem sei que ele está assim, não só por isso. Mas só consigo expressar-me sobre isto, parece o mais claro na minha vida, o mais evidente e talvez o mais forte. Ninguém entende, ninguém por mais que diga “eu percebo-te” não passa de simpatia, ou então pensa mesmo que entende. Mas agora que passou das marcas, passou de um ídolo, passou para herói, passou para um modelo, passou para o homem da minha vida, é forte e incompreensível de mais até para mim. Sei que um dia vai passar, sei que um dia vou entender que tudo isto não dá em nada. Mas, faz parte.
Um dia, mais tarde vou poder contar as histórias de todas as loucuras cometidas por ele, falar com orgulho, que por mais homens que nessa altura tenham passado pela minha vida, ele vai ser quem mais me marcou, sem me tocar, quem mais me fez chorar sem cometer erros. O que mais apertos criou no meu coração sem me magoar, por quem mais corri com vontade, mesmo sabendo que no fim ele não iria estar lá. Por quem gritei mais alto, na esperança que me ouvisse, aquele por quem mais sorri mesmo sabendo que nunca contemplou esse mesmo sorriso. Aquele cujo seu nome foi o mais dito por mim, aquele que recebeu mais elogios que qualquer outro, aquele que seu nome fez sangue derramar no meu braço.
São tantas palavras existentes num dicionário, tantas letras nessas palavras, tantas frases formadas por essas, tantos pontos, e nada chega para isto. São inúmeros os textos feitos, inúmeras as letras e palavras juntas a tentarem explicar tudo, são teclas pressionadas, são tantas diferentes maneiras de descrever, e nenhuma, nenhuma ainda conseguiu expressar tudo, nada consegue transcrever este sentimento, tudo o que lerem disto, vai ser apenas uma amostra, de tudo. É ele quem me dá a felicidade que preciso, é ele em quem me refugio quando tudo á volta está caído, é como o ultimo pilar sobrevivente de uma guerra violenta, é como o único abrigo de uma batalha campal. É como se houvesse um pouco de oxigénio no fundo do mar, quando me estivesse a afogar; é como se fosse a gota de alívio na dor de uma queimadura. É o centro da terra, é a atmosfera, é o ar puro, é simplesmente o centro de tudo, é apenas a Terra e eu sou a Lua a girar á sua volta.
Um dia eu vou, um dia vou correr cada canto de Génova, um dia vou procurar em cada estádio italiano, um dia vou virar o mundo ao contrário, á espera que caias nos meus pés, e o apanhe. Como quando procuras algo numa mala, e não encontras. Juro que um dia vou gritar por ele, de uma bancada e esperar o seu olhar do relvado, juro que um dia vou andar na rua e vou vê-lo, juro que se me disserem que ele está por perto, nem que seja na Atalaia vou a correr, juro que não vou perder nem mais uma oportunidade, como tem vindo a acontecer.
Chamem ridículo, riam-se; mas isto não é igual a nada, não é um simples gostar, não é um simples ídolo, é o mais forte e verdadeiro de tudo.
Miguel Veloso, um herói, o meu rei.
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