É complicado, demais até para mim. É um sentimento demasiado forte. Em vez de ser como toda a gente e escrever sobre tudo o que se passa á volta deles mesmos, escrevo sobre aquilo que todos chamam de “paixão estúpida” ou “pancada forte”, aquilo tudo que eles dizem que vai passar. Mas para mim, por mais que mude, não passa. É um ano, um ano e oito dias, de paixão, de algo que não sei explicar, mas que não o consigo deixar para trás nunca. Já passei muitos momentos por ele, torcer pelos remates dele, vê-lo mesmo á minha frente a bater cantos, gritar com cada movimento dele. O meu olhar ficar cheio de brilho quando o dele se dirigiu a mim, sorrir ao ver o sorriso dele, gritar desesperadamente: “pai, o Miguel? PAAI, O MIGUEL?”. E até ficar tipo paralisada quando apenas um ferro e um vidro nos separava. Fixar o olhar no rosto dele á espera que esse se virasse na minha direcção. E quando finalmente isso aconteceu, todo o meu sistema paralisou, menos o inconsciente que fez o meu corpo tremer, como se o chão debaixo de mim estremecesse freneticamente. Os meus olhos pararam como um burro com palas, só olhava para os seus olhos, reparei que eles se dirigiam a mim, então reagi e percorri o resto do seu rosto que esboçou um sorriso, que instantaneamente criou outro no meu, e acenou um adeus bem feito, enquanto o meu braço ainda a tremer se esticou, a minha mão apenas se abriu, e na sequência do seu sorriso se acentuar, a minha mão foi se fechando, devagar como se estivesse a agarrar algo no ar, e logo a seguir pus o cabelo para trás, afastei-o da minha cara para o poder ver ainda melhor. Durante esses dois gestos, ele já com um pequeno sorriso, baixou o olhar de novo para o seu leitor de música e voltou a conversar com o seu parceiro.
Poucos acreditam neste momento, digo-vos já que até o meu pai se passou, porque odeia a ideia de estar completamente apaixonada por um homem de 24 anos que não conheço de lado nenhum, e ficou com o seu sentido protector de pai ligado quando reparou no momento. Mas ao reparar no meu ar feliz, abraçou-me. Vi-o partir, sair do autocarro e entrar pela porta do aeroporto, e a preocupação instalou-se em mim. As minhas paranóias com aviões, pensar que os meus jogadores podiam não chegar lá, que podia perder o meu ídolo cresceram. Mas quando vi na televisão que eles tinham chegado bem, estava mais que aliviada. Pela primeira vez em 5 anos consegui torcer pela selecção portuguesa, já não o fazia á muito tempo, nesses anos só me preocupava com a América. O que acho normal, vivi lá os melhores momentos de toda a minha vida. Mas por ele entendi, que pelo menos naquela altura me sentia portuguesa. As minhas revoltas quando algum jogador o punha no chão, a minha preocupação no jogo dele, as minhas lágrimas quando ele entrava em campo. Tudo isso foi intenso.
Nem tudo foi bom. Mais tarde, voltei aquele aeroporto, sem dormir, estava lá de madrugada á espera dele. Mas naquele dia haviam decidido que tinham de sair por portas diferentes, para ver a mulher da minha vida feliz, fiquei naquela porta á espera que ela visse o ídolo dela. Ela correu para a janela dele, trocaram gestos, a minha prima viu o querido dela, correu para ele. E eu fiquei parada, com a sensação, que ali não fazia nada. Já no caminho para lá tinha o pressentimento que não o ia ver, era a única oportunidade de estar perto dele, de lhe tocar, e perdi-a, por metros de distância, por portas paralelas. Entrei por essa porta a dentro num passo acelerado, já com as lágrimas no rosto, e perguntei a toda a gente por ele e todos me enganaram, todos me disseram que ele ainda não passara, já faziam seis e meia da manhã, duas horas e meia á sua procura e nada. Até que uma rapariga com um sorriso na cara, me disse “sim, o Miguel já passou” e com um autógrafo seu nas mãos, senti o meu corpo cair no chão, sem vontade se erguer. Mas felizmente, quando voltei a abrir os olhos ainda estava de pé. Mesmo depois de me dizerem que ele já partira, a minha esperança continuou. Ao ponto de estarmos a voltar e eu por segundos vê-lo, não sei bem como e corri, até que a minha mãe me disse “ele já foi sara”, e voltei para trás, ainda mais abatida. Chorei agarrada á minha mulher todo o caminho, pedindo que pelo menos ela ficasse comigo.
Os dias foram passando, devastada com o facto de todas as que lá estavam poderem ter contemplado o seu sorriso, e eu por um minuto de distância o ter deixado escapar. Já para não falar da vontade de voltar atrás e partir os dentinhos todos, um por um, daquela gaja.
Uns meses passaram, e começaram a falar da saída dele. Bem, nem sei, nesses tempos mudei, deixei de ser a pessoa confiante todos os dias, com um sorriso sempre presente. Esse mesmo sorriso, quando aparecia era trémulo e desaparecia quando pensava na sua possível partida para longe do meu clube lindo. Nessa altura houve fases, a certeza de ele ser vendido, depois ele afirmou que não sairia que, o Sporting era o seu clube, e não nos ia deixar para trás, logo aí, ganhei mais um pouco de confiança. Mas, essa confiança, desapareceu, quando acordei com uma série de mensagens e chamadas não atendidas de pessoas, a dizerem que ele tinha saído, até mesmo a mandarem-me a foto da notícia no jornal. Levantei-me da cama com um desespero gigante, e corri para a sala, estava a televisão ligada nas notícias, e esperei calada á porta até que desse essa notícia, quando essa mesma apareceu, soltei um grunhido e tapei a cara, pois o peso das lágrimas já era maior que a minha cabeça. O meu avô reparou na minha presença e disse-me: “não vale a pena, já foi”, corri e fechei-me no quarto. Chorei, chorei e chorei. E liguei a um amigo meu, aquilo tudo parecia demasiado para eu aguentar sozinha. Entendi que não conseguia falar, só passados cinco minutos de chamada em que só se ouviam soluços e respiração ofegante consegui dizer “o meu Miguel… foi embora”. Não estava á espera de grande apoio, mas esperava que alguém me conseguisse ajudar. Entendi que não, e pressionei o botão vermelho, desligando a chamada e deixei-me ficar sozinha, num estado melancólico. Os dias foram passando, e acho que só dois meses depois recuperei totalmente. Mas não o deixei para trás. Todos os dias consultava ainda com mais atenção os jornais desportivos que comprava todos os dias, lia a parte do Sporting, como habitual e depois folheava tudo á procura do seu nome, todos os dias entrava em sites Italianos, pesquisava Génova e Miguel Veloso á espera de palavras sobre ele, á espera de imagens que retratassem o seu estado naquela altura. Fui encontrando. E hoje admito que não gostei de nada do que vi. Ele pode ter jogado bem, ou mal. Visto que mal jogou. Mas o lugar dele sempre pertenceu ao Sporting Clube Portugal. Qual Génova? Clube de fracos e longe de mim.
O facto de em todas as idas a Alvalade já não o ver naquele relvado, foi algo que tive de superar, com muito esforço. Durante uns tempos, ainda inconscientemente o procurei por aquele campo, obviamente, sem sucesso algum. Quantos diziam, quantos apostavam, que o ia esquecer assim que a sua partida se realizasse? Ou que ia deixar de ser do Sporting por ele? Bem digo-vos que foram pior que quaisquer outras ofensas relacionadas com ele. Digo-vos o porquê. Nunca o deixei, já passaram 7 meses desde a sua saída, e nunca o abandonei, cada dia é uma corrida para saber de si, do seu paradeiro, do seu estado, porque eu preocupo-me. Uma vez dito que é o meu ídolo, é o meu ídolo, sem retorno. Um ídolo não se deixa só porque sai de perto de nós, só porque sai do sítio que amamos. E dizerem que trocaria o Sporting pelo Génova? Bem, até me dá vontade de rir. Quem disse isso não sabe a paixão, o amor verdadeiro que tenho pelo Sporting, que sim, é maior que o que tenho pelo Miguel, mil vezes. Não troco o Sporting, nem que o meu pai jogasse lá e mudasse de clube. Porque se não fosse o Sporting, também não saberia da existência dele.
Como já disse, sete meses, de um ano de orgulho por ele já passaram sem ele por perto. Indigna-me imenso o facto de lá não lhe darem o valor que ele merece. O facto de não jogar, o facto de o julgarem e criticarem sem motivo.
Posso lhe chamar de tudo, de ídolo, herói, homem da minha vida, gordo, loiro, cristas. Podem gozar comigo e com ele. Mas eu não o largo. É o único, com quem tenho os maiores sonhos, e os mais bonitos. O único que sonho casar, que sonho tocar, beijar e passar o resto da vida a seu lado. O único que mesmo depois de me ter magoado, de nos ter “traído” a todos, não desce na minha consideração, que nada faz mudar o que sinto por ele. Apenas, dia após dia este sentimento cresce. O meu Miguel vai ser sempre o meu Miguel.
Um dia, as capacidades que tens de voar nos meus sonhos, se tornarão reais, e entrarás por este quarto a dentro, e voaremos para longe, como o Super-homem e a Louis Lane, um dia, perderei um sapatinho num bailado e irão á minha porta bater para eu o experimentar e me levarão para perto de ti para sempre, um dia encontrarei umas fadas, que com os seus pós me farão pairar livremente no ar na tua direcção. São muitas histórias de encantar juntas com as que eu própria imagino, são muitas esperanças, que talvez um dia serão despedaçadas. São muitos minutos na lua a imaginar-te perto de mim. São muitas lágrimas a imaginar-te de novo no relvado em Alvalade, porque desejo mais isso que qualquer momento perto de ti, porque orgulho-me mais de ti a jogar, do que em qualquer outra situação, principalmente se for pelo Sporting.
Sim, o texto é grande, 1778 palavras, muitas linhas, três páginas, mas é só metade do que sinto por ele.
MIGUEL LUÍS PINTO VELOSO, mais que uma vida, uma eternidade. Mais que um ídolo, um herói. Mais que um jogador, o meu jogador.
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